O PARQUE
Este espaço guarda memórias, mudanças e muitas histórias. Conheça um pouco do caminho que transformou o Parque Augusta no que ele é hoje.
Este espaço guarda memórias, mudanças e muitas histórias. Conheça um pouco do caminho que transformou o Parque Augusta no que ele é hoje.
Origens: Palacete Uchoa e o Colégio Des Oiseaux (1902–1969)
A história do Parque Augusta começa no início do século XX, quando o terreno abrigava o Palacete Uchoa, projetado pelo arquiteto Victor Dubugras, símbolo da elite paulistana.
Em 1907, o local foi transformado no Colégio Des Oiseaux, internato feminino ligado à congregação de Notre-Dame. Durante décadas, o colégio formou jovens da alta sociedade com uma educação moral, religiosa e intelectual. Em 1969, encerrou suas atividades, acompanhando as mudanças urbanas e sociais da cidade.
Abandono e ameaça imobiliária (1970–2000)
Após o fechamento do colégio, parte das construções foi demolida em 1974. O terreno entrou em um ciclo de abandono, sendo usado para eventos esporádicos e estacionamento.
Mesmo com a preservação do bosque tombado em 2004 pelo CONPRESP, as pressões da especulação imobiliária se intensificaram — tornando a área alvo de empreendimentos privados.
Início da mobilização popular (2000–2012)
Em 2006, um projeto de lei (PL 345/2006) foi apresentado à Câmara Municipal para transformar a área em parque.
Com o tempo, grupos de moradores, ambientalistas e urbanistas começaram a se articular, reconhecendo o valor ambiental e histórico daquele espaço.
A luta pelo Parque Augusta se consolidava como uma das maiores frentes de resistência urbana de São Paulo.
A fase mais intensa da luta: 2013 a 2016
2013: As construtoras Setin e Cyrela compraram o terreno com planos de erguer torres residenciais. No mesmo ano, a prefeitura sancionou a Lei 15.941, que instituía o Parque Augusta, mas as construtoras fecharam os portões e ignoraram a legislação.
Surgimento da OPA – Organismo Parque Augusta: Coletivos e moradores se organizaram sob o nome OPA, promovendo festivais, oficinas, assembleias, atividades culturais e debates públicos no espaço.
Janeiro a março de 2015: O ápice da luta ocorreu com a ocupação do parque durante 47 dias, com intensa participação popular, atividades artísticas, shows, rodas de conversa e acampamentos no local.
Março de 2015: A reintegração de posse foi executada com resistência pacífica por parte dos ativistas, que chegaram a subir em árvores para impedir a derrubada da vegetação.
Abril a julho de 2015: A Justiça determinou a reabertura parcial do espaço ao público. O terreno permaneceu cercado, mas a movimentação popular e jurídica manteve o espaço vivo.
2016: O Ministério Público de SP propôs usar verbas de indenizações públicas, como no caso Maluf, para viabilizar a compra do terreno e garantir o parque.
Essa fase foi decisiva: mostrou que era possível, sim, barrar empreendimentos privados e proteger áreas verdes com força coletiva. Essa conquista inspira movimentos até hoje.
Avanços jurídicos e políticos (2017–2019)
Após anos de pressão popular e articulações legais, foi firmado um acordo entre a Prefeitura de São Paulo, o Ministério Público e as construtoras.
O terreno foi doado pelas empresas ao município em abril de 2019, mediante concessão de potencial construtivo em outras áreas da cidade — ou seja, as construtoras cederam o terreno, mas puderam transferir seus direitos de construir para outras regiões.
Essa solução viabilizou, legalmente e financeiramente, a criação do parque.
Obras, restaurações e descobertas arqueológicas (2019–2020)
Com a posse do terreno pela Prefeitura, começaram as obras de estruturação do parque.
Foram restaurados elementos históricos, como o portão original, a Casa das Araras e trilhas centenárias. Durante as escavações, arqueólogos encontraram artefatos históricos, o que atrasou momentaneamente os trabalhos e trouxe ainda mais valor à área.
As construtoras também custearam obras como o Boulevard Gravataí, ligando o parque à Praça Roosevelt, e a manutenção do parque por dois anos.
Inauguração oficial: um parque conquistado pelo povo (2021)
O Parque Augusta – Prefeito Bruno Covas foi inaugurado em 6 de novembro de 2021, com a presença do prefeito Ricardo Nunes, do filho de Bruno Covas e de representantes da sociedade civil.
A cerimônia foi marcada por protestos de servidores, mas também por reconhecimento do valor histórico e simbólico daquela conquista.
Hoje, o parque é um espaço verde, público, democrático e cheio de memória viva — prova concreta de que a cidade também pode ser construída de baixo para cima, com a voz e a luta do povo.
Um exemplo de urbanismo participativo
O Parque Augusta não é apenas um espaço de lazer — é um símbolo de resistência, memória e cidadania.
Ele resiste como um pulmão verde no centro da cidade, preserva arquitetura histórica e representa um dos raros casos em que a especulação foi barrada com mobilização popular.
A história da OPA e de todos que lutaram por esse espaço é a prova de que a cidade pertence a quem a vive, e que a construção de um futuro mais justo começa com o direito à cidade.